quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Euro 92: Quando a esmola é grande a Dinamarca aproveita

É provavelmente uma das mais bizarras histórias de futebol. Se o começo é surpreendente então o que dizer do seu final? Um verdadeiro "conto de fadas", coroando de glória o seu príncipe encantado - Peter Schmeichel. Em jeito de história começo da maneira devida:

Era uma vez o Europeu de Futebol de 1992, realizado na Suécia, onde pela primeira vez as camisolas dos jogadores ostentavam os seus nomes e respectivos números, de 1 a 20. A Península Ibérica não constava nos qualificados (Portugal tinha perdida a vaga na fase de qualificação para a Holanda) e a Dinamarca via-se privada de marcar presença em solo vizinho. Uma desilusão que teve viragem cinematográfica. A então Jugoslávia estava envolvida numa complicada guerra civil (a denominada Guerra dos Balcãs) e, fruto de todo o clima de instabilidade politico-social, acaba por ser afastada da fase final do Europeu. Azar de uns, sorte de outros. A Dinamarca, a 10 dias do início do Euro, é repescada e entra numa competição que, literalmente, passa a ser sua.

Peter Schmeichel foi eleito "a Estrela" do Euro 92
O Grupo A apresentava-se como um grupo destinado a dois colossos europeus: França e Inglaterra. A anfitriã Suécia e a repescada Dinamarca eram vistas como as selecções vizinhas destinadas a partilharem os últimos lugares do grupo. Mas os jogos ganham-se dentro do campo e na primeira jornada a Suécia, com o apoio de uma nação inteira, arranca um empate frente à França (1-1) enquanto que a Dinamarca, com o seu guarda-redes de elevado nível, segura os ingleses, arrancando um empate prometedor (0-0). Teria sido apenas um mau começo dos históricos do futebol europeu? Não. Na jornada seguinte Tomas Brolin marca e dá a vitória por 1-0 à Suécia, frente à "turista" Dinamarca. Por seu lado, França e Inglaterra continuaram na onda dos empates e começavam adiar a qualificação. Tudo se decidiu na última jornada, onde a selecção da casa, mesmo começando praticamente a perder, consegue ganhar de virada à Inglaterra, com um golo perto do final de autoria do inevitável Tomas Brolin. A euforia amarela preenchia as bancadas e os ingleses desiludiam sua majestade.

Ora, se a Suécia já tinha carimbado a passagem às meias finais, restava apenas uma vaga no grupo. A França. O excesso de confiança Francês esbarrou em Peter Schmeichel e os nórdicos acabaram por conquistar uma vitória tão inesperada quanto a sua presença. Apito final e os vizinhos escandinavos ocupavam as duas vagas de qualificação. Hora do adeus para França e Inglaterra.

Passando ao Grupo B, Holanda e Alemanha apresentavam-se como as equipas candidatas à qualificação. Todavia, Escócia e CEI (Comunidade dos Estados Independentes, que representava os antigos países soviéticos, tinham a garra e a determinação de verdadeiros guerreiros, com especial atenção para a qualidade técnica dos ex-soviéticos. Na abertura do grupo ficaram patentes todas dificuldades esperadas: a Holanda salvou-se perante a Escócia com um golo solitário do seu avançado goleador, Dennis Bergkamp. Por seu lado, a Alemanha acabou por ser feliz ao marcar o golo do empate em cima do minuto 90´por intermédio de Hassler (golaço de livre directo). Menos mau. Na segunda jornada a Escócia volta a perder, desta vez por 2-0 perante uma Alemanha madura e responsável. Já a Holanda voltou a jogar o seu (bom) futebol mas o CEI mostrou que era uma equipa digna de estatuto. O nulo no marcador registou-se até final e tudo seria decidido na última jornada. Um emocionante Holanda-Alemanha fechava o grupo e temia-se que o pânico da eliminação estragasse o jogo. Nada disso, os golos vieram em quantidade significativa e a Laranja Mecânica acabou por esmagar os alemães por 3-1, com Bergkamp e Rijkaard a assumirem a responsabilidade do jogo. Do outro lado, o solitário Klinsmann foi insuficiente. Mas, eis que uma surpreendente Escócia ganhou por 3-0 ao CEI, definindo a passagem âs meias finais de Holanda e Alemanha, sem surpresas.

Surgiam as meias finais e o destino ditava que a equipa da casa jogasse com a Alemanha, enquanto que a actual campeã em título, Holanda, defrontaria os "turistas" dinamarqueses. Se os analistas desportivos vislumbravam uma final Alemanha - Holanda, diferente era a opinião popular, que se mobilizava com a esperança de assistir a uma final escandinava. A euforia era enorme e ambas as equipas jogavam com milhões a empurrar. E foi com esse espírito que a Suécia entrou em campo, num jogo verdadeiramente electrizante em que houve golos aos 88´e 89´minutos. No fim, Riedle com 2 golos acabou com o sonho sueco e o 3-2 caiu para o lado alemão. A Suécia ficou de sorriso amarelo...

Do outro lado surgia a Holanda, com aquele seu futebol romântico e pleno de técnica, perante uma selecção dinamarquesa organizada e descontraída, sem qualquer tipo de pressão. Os jogadores já tinham tido o seu prémio, brilhar na grande montra. Os adeptos saboreavam o momento, cheios de orgulho e emoção. As bancadas cada vez mais eram suas e tinha chegado a hora das decisões. A Dinamarca sentiu o momento e Larsen entrou em campo pronto a disparar. Logo a abrir, um cabeceamento do dinamarquês instalou a loucura nas bancadas, apesar de pouco tempo depois Bergkamp serenar os ânimos com o empate. A Holanda tinha dificuldade em bater o gigante dinamarquês Schmeichel e ao intervalo perdia por 2-1, com mais um golo de Larsen. A segunda parte era decisiva e os Holandeses partiram para cima da Dinamarca. Peter Schmeichel ia defendendo tudo o que havia para defender, sem olhar a caras, sem olhar a nomes. Só que, fruto de um canto, o inevitável Rijkaard fica com a bola nos pés e à saída do guardião dispara lá para dentro. Corria o minuto 86´e os Holandeses respiravam de alívio. O empate levava o jogo para prolongamento e os dinamarqueses desesperavam. Estiveram tão perto da história... mas o destino queria que tal história fosse pintada de momentos épicos, ainda mais heróicos, diria mesmo hercúleos. Com a igualdade registada em prolongamento, o jogo caminharia para a decisão na marca de penalidade. E o Herói mostrou-se presente uma vez mais. Peter Schmeichel consegue suster a penalidade de Marc Van Basten (ainda por cima!) e deixa a sua Dinamarca a uma penalidade da final...bola para o lado e guarda redes para o outro, golo da Dinamarca e o impensável acontecia!

Por fim, a final. Alemanha mede forças com os "underdogs" dinamarqueses e procura o seu terceiro título europeu. Sabe o seu favoritismo e tem noção da necessidade de evitar qualquer tipo de sustos ou surpresa. Mas uma vez mais foi a Dinamarca a entrar com tudo e a colocar-se na frente do marcador, por intermédio de um míssil impressionante de Jenssen. A nação vermelha e branca delirava com os seus rapazes e erguiam as mãos para o céu. Parecia um sonho. Mas de sonho eram sem dúvida as defesas de Peter Schmeichel, o "Great Dane", e Jurgen Klinsmann que o diga. Verdadeiramente fantástico. Nascia uma lenda com lugar na história. A Alemanha tentou reagir mas sempre sem sucesso e foi já ao minuto 78´que Vilfort, com um remate fora da área (que ainda vai ao poste) matou o jogo e levou ao delírio um estádio louco de emoção. No final, uma certeza: os contos de fadas existem!

A Dinamarca surpreendeu o mundo do futebol, levantou o troféu e viveu feliz para sempre. Uma das mais bonitas páginas de história que o Futebol escreveu.

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